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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014



Visita a Escola Municipal Pingo de Gente em Macuco de Minas-MG      


            Para garantir o direito a educação em um país com dimensões continentais como o Brasil, é preciso no mínimo que as escolas estejam acessíveis a todos. Em nosso território se faz necessário uma distribuição de instituições educacionais que não fique concentrada apenas nos centros urbanos. É preciso que a escola chegue até o campo e se constitua como um centro de liderança, que ofereça as condições objetivas e subjetivas para o fortalecimento da cultura local e o enriquecimento da experiência humana. Desse modo, ao se falar da educação e da educação física no meio rural torna-se fundamental refletir acerca de seus sujeitos, buscando compreender sua cultura, suas demandas e suas necessidades próprias. De um ponto de vista histórico uma importante contribuição para um maior entendimento acerca das transformações no modo de vida dos sujeitos que vivem no campo, é feita por Antônio Cândido. Em seu livro, Os parceiros do rio bonito, ele descreve as transformações no estilo de vida do caipira – que é uma, dentre as múltiplas, categorias empregadas para designar o tipo de homem brasileiro que vive no campo. Essa representação se formou na medida em que o bandeirante se sedentarizou e estabeleceu moradia fixa em determinado lugar, em virtude do enfraquecimento de sua prática econômica, centrada fundamentalmente na procura de metais preciosos e na captura de índios para trabalharem onde havia a necessidade de mão de obra. O caipira se constitui como aquele sujeito cuja cultura e modos de vida sofreram influência de grupos sociais oriundos da chamada Paulistânia. Assim como nas demais formas de representação acerca do homem do campo, os caipiras são membros de uma sociedade relativamente homogênea que mantinham bem delineados certos tipos de valores, de padrões culturais, de práticas alimentares e de produção da vida material. Sua economia centrava-se basicamente na garantia da própria subsistência, em que as atividades comerciais praticamente inexistiam e os produtos consumidos eram em grande medida, produzidos pelos próprios caipiras. A organização dos povoamentos era esparsa e contribuía para a manutenção da sua economia de subsistência. Viviam relativamente isolados nos chamados bairros, e suas moradias geralmente eram os ranchos, que eram construídos a partir de madeira entrelaçada, amarrada por cipós da floresta, coberta por palhas e cujas lacunas eram preenchidas por barro. Havia claro, algumas poucas construções sólidas que eram os edifícios públicos e religiosos feitos a partir de pedras, tijolos e cal (CÂNDIDO, 2010).
            Embora esse modo de vida ainda apresente alguns resquícios nos tempos atuais, ele há muito se alterou em função das transformações sociais desencadeadas pela emergência da lógica capitalista. As condições objetivas que possibilitam a produção da vida material provocaram muitas transformações nos sujeitos, que compreendem desde as formas com as quais se garante as condições básicas de vida até as formas de pensamento. Se outrora os processos de trabalho do homem do campo visavam uma produção de alimentos orientada para a garantia de sua própria existência, estes em grande medida agora estão condicionados ao imperativo capitalista da produção em larga escala. Esse aspecto modifica sobremaneira o modo de vida do homem do campo, que agora tem que investir suas energias para obter um aumento do rendimento da terra. É esperado então que aquela prática passada de geração em geração entre em declínio para ser substituída gradativamente pelo ritmo das máquinas. A radicalização desse processo ocorrida nas décadas finais do século XX, somado a atração da cidade e certo desprezo ao modo de vida do homem do campo, contribuiu para o êxodo rural. Todavia há no campo, processos de trabalho que favorecem a permanência das pessoas nas comunidades rurais e fortalecem a sua identificação com aquela localidade, como, por exemplo, a chamada agricultura familiar.
            Já as escolas no meio rural passam por sérias dificuldades. Há por parte do poder publico uma forte atração por fechá-las, à medida que o fechamento se constitui como a ação economicamente mais viável para o município, que então subsidia o transporte para escolas urbanas. Tavares (2014) reporta que nos últimos anos foram fechadas cerca de 37 mil escolas no campo. De 100 escolas que fecharam apenas uma foi aberta. Tais dados denotam que o direito a educação dos alunos e alunas que vivem no campo vem sendo amplamente ferido. Há longos deslocamentos que dificultam a manutenção dos estudos, e o aluno ou se submete ao desgaste desse deslocamento ou para de estudar. É preciso lembrar que raramente uma escola no meio rural atende alunos no ensino médio, pois sua abrangência limita-se muitas vezes às séries inicias do ensino fundamental. 

Já com relação à organização curricular nas escolas rurais, há uma tendência em lhes aplicar modelos de escolas urbanas.  Segundo a autora supramencionada,
                                       
A educação tradicional relata o camponês como o jeca ou um lugar romantizado com a relação com a natureza e não como um lugar de trabalho e cultura. O que temos lutado também é que possamos mudar essa realidade na formação. Os estudantes do espaço urbano também precisam ler o campo com a sua realidade, com um entendimento mais amplo. Os materiais didáticos que são utilizados no campo e na cidade têm de demonstrar a realidade camponesa para que todos possam compreendê-la. (TAVARES, 2014, s/p).  

                Assim é preciso que o campo seja visto como um local para a formação cultural do sujeito (TAVARES, 2014), em que a educação dever oferecer conhecimentos para que o aluno possa realizar leituras acerca de sua realidade concreta. Desse modo, é preciso que as disciplinas escolares valorizem a cultura local e busquem sistematizar intervenções considerando as demandas, características e necessidades dos sujeitos na relação pedagógica.  
            Em uma visita à Escola Municipal Pingo de Gente situada no distrito de Macuco de Minas, tivemos a oportunidade de ter contato com seu cotidiano, conhecendo sua estrutura, seus atores e tomando nota de alguns problemas. A escola atende crianças na fase de educação infantil e funciona nos períodos da tarde e da manhã. As turmas são compostas no máximo por 16 alunos. Nesse pequeno contato, tivemos um interessante diálogo com a diretora, com a supervisora pedagógica e com algumas professoras, que nos inteiraram sobre o contexto da escola. Segundo a diretora na comunidade as funções da família e da escola são definidas, o que possibilita uma clara orientação da função do professor. Os pais por sua vez, mantém uma preocupação em participar das reuniões escolares.
A escola não possui a disciplina de Educação Física, que é substituída pelos momentos de recreação ministrados por uma professora designada especificamente para essa função. Segundo relatos, essas professoras planejam suas atividades em conjunto com as demais docentes, buscando com isso uma ajuda mútua para suprir a não formação na área. Os conteúdos ministrados são as brincadeiras e jogos populares, que são orientados para proporcionar o bom desenvolvimento motor dos alunos.
Contudo, o cargo do professor de recreação é variável e, portanto não é em todos os anos letivos que a escola conta com essa professora. Quando isso acontece, as professoras generalistas dedicam um tempo de sua intervenção para ministrarem experiências corporais. Desse modo, há uma dificuldade na escola na organização desses conteúdos. Outra dificuldade mencionada é referente à estrutura física que não possui alguns itens, que fazem falta no cotidiano escolar como, por exemplo, um espaço adequado para as refeições.
O contato com a escola nessa pequena visita foi importante, pois se trata de um lugar diferente pouco explorado nos processos de formação docente. Uma lição interessante que podemos apreender nessa visita é uma íntima relação entre professor/aluno(a) que é de extrema importância para a construção do conhecimento. As dimensões do cuidado e do ato de educar não estavam dissociadas, isto não se dá somente por ser uma escola de educação infantil, mas também em função do professor ter um maior contato com alunos na comunidade. Desse modo, tem-se a possibilidade de melhor conhecer os alunos e suas demandas para, a partir disso construir uma prática pedagógica significativa.     


Grupo: André Liuz de Oliveira Augusto, Darlei Francisco de Souza, Rosana Vicente Ramos. 

Referências
CÂNDIDO, Antônio. Os parceiros do rio bonito: um estudo sobre o caipira paulista e a transformação de seus meios de vida. 11ª ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2010.
TAVARES, Viviane. Cenário da educação no campo é desanimador diz educadora. Entrevista disponível em: <http://www.brasildefato.com.br/node/27211>. Acesso 24/01/2014.

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