Visita a Escola Municipal Pingo de Gente em Macuco de Minas-MG
Para garantir o direito a educação em um país com
dimensões continentais como o Brasil, é preciso no mínimo que as escolas
estejam acessíveis a todos. Em nosso território se faz necessário uma
distribuição de instituições educacionais que não fique concentrada apenas nos
centros urbanos. É preciso que a escola chegue até o campo e se constitua como
um centro de liderança, que ofereça as condições objetivas e subjetivas para o
fortalecimento da cultura local e o enriquecimento da experiência humana. Desse
modo, ao se falar da educação e da educação física no meio rural torna-se
fundamental refletir acerca de seus sujeitos, buscando compreender sua cultura,
suas demandas e suas necessidades próprias. De um ponto de vista histórico uma
importante contribuição para um maior entendimento acerca das transformações no
modo de vida dos sujeitos que vivem no campo, é feita por Antônio Cândido. Em
seu livro, Os parceiros do rio bonito,
ele descreve as transformações no
estilo de vida do caipira – que é uma, dentre as múltiplas, categorias
empregadas para designar o tipo de homem brasileiro que vive no campo. Essa
representação se formou na medida em que o bandeirante se sedentarizou e
estabeleceu moradia fixa em determinado lugar, em virtude do enfraquecimento de sua
prática econômica, centrada fundamentalmente na procura de metais preciosos e
na captura de índios para trabalharem onde havia a necessidade de mão de obra.
O caipira se constitui como aquele sujeito cuja cultura e modos de vida
sofreram influência de grupos sociais oriundos da chamada Paulistânia. Assim
como nas demais formas de representação acerca do homem do campo, os caipiras são
membros de uma sociedade relativamente homogênea que mantinham bem delineados
certos tipos de valores, de padrões culturais, de práticas alimentares e de
produção da vida material. Sua economia centrava-se basicamente na garantia da
própria subsistência, em que as atividades comerciais praticamente inexistiam e
os produtos consumidos eram em grande medida, produzidos pelos próprios
caipiras. A organização dos povoamentos era esparsa e contribuía para a
manutenção da sua economia de subsistência. Viviam relativamente isolados nos chamados
bairros, e suas moradias geralmente eram os ranchos, que eram construídos a
partir de madeira entrelaçada, amarrada por cipós da floresta, coberta por
palhas e cujas lacunas eram preenchidas por barro. Havia claro, algumas poucas
construções sólidas que eram os edifícios públicos e religiosos feitos a partir
de pedras, tijolos e cal (CÂNDIDO, 2010).
Embora
esse modo de vida ainda apresente alguns resquícios nos tempos atuais, ele há
muito se alterou em função das transformações sociais desencadeadas pela
emergência da lógica capitalista. As condições objetivas que possibilitam a
produção da vida material provocaram muitas transformações nos sujeitos, que
compreendem desde as formas com as quais se garante as condições básicas de
vida até as formas de pensamento. Se outrora os processos de trabalho do homem
do campo visavam uma produção de alimentos orientada para a garantia de sua
própria existência, estes em grande medida agora estão condicionados ao
imperativo capitalista da produção em larga escala. Esse aspecto modifica
sobremaneira o modo de vida do homem do campo, que agora tem que investir suas
energias para obter um aumento do rendimento da terra. É esperado então que
aquela prática passada de geração em geração entre em declínio para ser
substituída gradativamente pelo ritmo das máquinas. A radicalização desse
processo ocorrida nas décadas finais do século XX, somado a atração da cidade e
certo desprezo ao modo de vida do homem do campo, contribuiu para o êxodo
rural. Todavia há no campo, processos de trabalho que favorecem a permanência
das pessoas nas comunidades rurais e fortalecem a sua identificação com aquela
localidade, como, por exemplo, a chamada agricultura familiar.
Já as
escolas no meio rural passam por sérias dificuldades. Há por parte do poder
publico uma forte atração por fechá-las, à medida que o fechamento se constitui
como a ação economicamente mais viável para o município, que então subsidia o
transporte para escolas urbanas. Tavares (2014) reporta que nos últimos anos
foram fechadas cerca de 37 mil escolas no campo. De 100 escolas que fecharam
apenas uma foi aberta. Tais dados denotam que o direito a educação dos alunos e
alunas que vivem no campo vem sendo amplamente ferido. Há longos deslocamentos
que dificultam a manutenção dos estudos, e o aluno ou se submete ao desgaste
desse deslocamento ou para de estudar. É preciso lembrar que raramente uma
escola no meio rural atende alunos no ensino médio, pois sua abrangência
limita-se muitas vezes às séries inicias do ensino fundamental.
Já com relação à organização curricular nas
escolas rurais, há uma tendência em lhes aplicar modelos de escolas
urbanas. Segundo a autora
supramencionada,
A educação tradicional relata o camponês como o jeca ou
um lugar romantizado com a relação com a natureza e não como um lugar de
trabalho e cultura. O que temos lutado também é que possamos mudar essa
realidade na formação. Os estudantes do espaço urbano também precisam ler o
campo com a sua realidade, com um entendimento mais amplo. Os materiais
didáticos que são utilizados no campo e na cidade têm de demonstrar a realidade
camponesa para que todos possam compreendê-la. (TAVARES, 2014, s/p).
Assim é preciso que o campo seja visto como um local
para a formação cultural do sujeito (TAVARES, 2014), em que a educação dever oferecer
conhecimentos para que o aluno possa realizar leituras acerca de sua realidade
concreta. Desse modo, é preciso que as disciplinas escolares valorizem a
cultura local e busquem sistematizar intervenções considerando as demandas,
características e necessidades dos sujeitos na relação pedagógica.
Em uma visita à Escola Municipal Pingo de Gente situada
no distrito de Macuco de Minas, tivemos a oportunidade de ter contato com seu
cotidiano, conhecendo sua estrutura, seus atores e tomando nota de alguns
problemas. A escola atende crianças na fase de educação infantil e funciona nos
períodos da tarde e da manhã. As turmas são compostas no máximo por 16 alunos. Nesse
pequeno contato, tivemos um interessante diálogo com a diretora, com a
supervisora pedagógica e com algumas professoras, que nos inteiraram sobre o
contexto da escola. Segundo a diretora na comunidade as funções da família e da
escola são definidas, o que possibilita uma clara orientação da função do
professor. Os pais por sua vez, mantém uma preocupação em participar das reuniões escolares.
A escola não possui a disciplina de
Educação Física, que é substituída pelos momentos de recreação ministrados por
uma professora designada especificamente para essa função. Segundo relatos,
essas professoras planejam suas atividades em conjunto com as demais docentes,
buscando com isso uma ajuda mútua para suprir a não formação na área. Os
conteúdos ministrados são as brincadeiras e jogos populares, que são orientados
para proporcionar o bom desenvolvimento motor dos alunos.
Contudo, o cargo do professor de recreação é
variável e, portanto não é em todos os anos letivos que a escola conta com essa
professora. Quando isso acontece, as professoras generalistas dedicam um tempo
de sua intervenção para ministrarem experiências corporais. Desse modo, há uma
dificuldade na escola na organização desses conteúdos. Outra dificuldade mencionada
é referente à estrutura física que não possui alguns itens, que fazem falta no
cotidiano escolar como, por exemplo, um espaço adequado para as refeições.
O contato com a escola nessa pequena visita
foi importante, pois se trata de um lugar diferente pouco explorado nos
processos de formação docente. Uma lição interessante que podemos apreender
nessa visita é uma íntima relação entre professor/aluno(a) que é de extrema
importância para a construção do conhecimento. As dimensões do cuidado e do ato
de educar não estavam dissociadas, isto não se dá somente por ser uma escola de
educação infantil, mas também em função do professor ter um maior contato com
alunos na comunidade. Desse modo, tem-se a possibilidade de melhor conhecer os
alunos e suas demandas para, a partir disso construir uma prática pedagógica
significativa.
Grupo: André Liuz de Oliveira Augusto, Darlei Francisco de Souza, Rosana Vicente Ramos.
Referências
CÂNDIDO, Antônio. Os parceiros do rio bonito: um estudo sobre o caipira paulista e a transformação de seus meios de vida. 11ª ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2010.
TAVARES, Viviane. Cenário da educação no campo é desanimador diz educadora. Entrevista disponível em: <http://www.brasildefato.com.br/node/27211>. Acesso 24/01/2014.
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