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terça-feira, 2 de julho de 2019

Resenha

http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332475 
ALINE CRISTINA DA SILVA

BIANCA LÚCIA DE ALMEIDA

EVIANE DE FÁTIMA FELIZARDO

EVELYN GARCI PINTO

Resenha

SILVA, Matheus Bernardo. O objeto de conhecimento da educação física escolar na perspectiva da pedagogia histórico-crítica. Introdução. [s.n.]. Campinas, SP, 2018.

O texto se baseia em analisar categorias fundamentadas a partir da pedagogia histórico-crítica que podem contribuir para a identificação e compreensão do objeto de conhecimento da educação física escolar. Sendo assim, definiu-se como exigência metodológica de pesquisa a inclusão de estudos que abordassem a educação como um fenômeno social que se desenvolve no decorrer do tempo sob dadas condições histórico-sociais. Seguramente, a educação física, como um componente do currículo formativo da escola, é um elemento construído historicamente e desenvolvido socialmente, portanto, qualquer investigação sobre esse objeto obriga partir da relação entre história e educação, tendo a sociedade como mediadora. Tal perspectiva se apoia no campo teórico-prático do materialismo histórico, ou seja, da concepção dialética da história tal como iniciada por Marx e outros estudiosos.

O surgimento da pedagogia histórico-crítica se deu no interior da conjuntura social (econômica, política, cultural e pedagógica) no final da década de 1970, quando se acentuou o processo de crítica à política educacional e a pedagogia oficial do regime militar por parte das teorias “críticas reprodutivistas”. Tais teorias criticam e apontam que não é possível compreender a educação, de maneira autônoma em relação ao contexto social. Chegam à conclusão que a educação tem função de reproduzir a sociedade.

Dermeval Saviani teve como intuito, superar tais teorias em proveito de atuar numa prática educativa de caráter transformador. Ele toma com embasamento a concepção dialética, na versão do materialismo histórico. Assim estabelece aproximações com a escola de Vigotski.

A educação, com base na pedagogia histórico-crítica, é compreendida como uma ação específica dos seres humanos. Quando negada tal natureza, o ser humano está transformando a si mesmo. Com isso, cabe ao professor contribuir, tendo em vista, o entendimento dos interesses da população e transformação estrutural da sociedade.

Para a pedagogia histórico-crítica o processo de transmissão-assimilação do conhecimento historicamente sistematizado (conhecimento científico) é a essência da educação escolar, bem como, é a essência da organização do currículo escolar, esse que é tomado como a organização do conjunto das atividades nucleares distribuídas no espaço tempos nucleares.

Os conteúdos escolares pautados nos fundamentos teóricos da pedagogia histórico-crítica vão um pouco além dos currículos escolares. Tratando-se de analisar as disciplinas, isto é, síncrese-análise-síntese.

Neste tocante, no final da década de 1970 e início de 1980, se estabelece um período fundamental, não só para a educação, como também, para a educação física escolar no que se refere à crítica sistemática aos paradigmas da aptidão física e do esporte. A partir desse período, há um determinado predomínio da teoria marxista nas reflexões e produções sobre a educação física escolar no Brasil.

Entretanto, no decorrer do tempo, as teorizações sobre a educação física escolar, tomaram distintas direções e proposições epistemológicas, aderindo diferentes concepções de mundo e educação.

Portanto o problema de pesquisa está sintetizado na seguinte indagação (pergunta-síntese): quais categorias analíticas, fundamentadas a partir da pedagogia histórico-crítica, podem contribuir para a identificação e compreensão do objeto de conhecimento da educação física escolar?

Assim, o autor formula uma hipótese de pesquisa que a educação física escolar deve estar fundamentada por uma teoria pedagógica, mais especificamente pela pedagogia histórico-crítica, uma vez que esta teoria pedagógica, por se tratar de uma ciência autônoma e unificada, possui fundamentos suficientes para consolidar a educação física como campo específico da educação e, por consequência, para identificar o seu objeto de conhecimento.

Mais especificamente com o objetivo de evidenciar a educação física, no âmbito escolar, a partir do circuito da educação, onde a prática pedagógica seja o ponto de início e de chegada do processo educativo; ressaltar as ciências naturais e as ciências humanas como instrumentos (meios) para o processo educativo sobre as questões de natureza específica (do seu objeto de conhecimento) da educação física como componente curricular da escola; compreender o objeto de conhecimento da educação física escolar a partir de uma análise radical sobre as especificidades do modo de produção capitalista, em especial, sobre as caracterizações da divisão do trabalho; apresentar uma possibilidade de analisar o objeto de conhecimento da educação física escolar, isto é, o desenvolvimento da corporalidade humana, por meio da relação contraditória entre desenvolvimento pleno do movimento e contenção do movimento.

A justificativa da tese se apoia, de um lado, na ainda precária legitimação epistemológica da educação física escolar, principalmente busca-se considerá-la numa perspectiva transformadora; por outro lado, nas ricas possibilidades que nos oferecem para essa sistematização, os pressupostos da pedagogia histórico-crítica, a qual possui os elementos suficientes para identificar o objeto de conhecimento da educação física escolar. Partiu-se, pois, do princípio de que ao tratar uma área do conhecimento na esfera escolar há a necessidade de se estar fundamentado por uma teoria pedagógica coerente com o tempo histórico e em uma perspectiva transformadora.

No entanto, nas teorizações da educação física, ela é apenas um objeto no processo educativo ancorada em outras ciências. Ora das ciências naturais (física, fisiologia, biomecânica, etc.) ora das ciências humanas (sociologia, filosofia, psicologia, etc.). Na pedagogia histórico-crítica encontram-se elementos suficientes para compreender a educação física com base numa ciência da educação autônoma e unificada.

Para responder à principal pergunta constitutiva do problema de pesquisa foi elaborado e efetivado um plano de trabalho envolvendo quatro etapas: 1) retomada das fontes principais que constituem o arcabouço teórico que fundamenta a pedagogia histórico-crítica, visando assegurar uma compreensão sistematizada da concepção de fundo, orientadora da pesquisa; 2) análise, a partir do referencial teórico, das influências das ciências naturais e humanas na proposição de determinado objeto de conhecimento da educação física escolar; 3) e, com base na sistematização da fonte principal e na análise dos dados teóricos supraditos, procurou-se apresentar uma possível reflexão sobre o objeto de conhecimento da educação física escolar visando superar as flutuações epistemológicas com as quais essa área do conhecimento convive historicamente.

No primeiro capítulo adentra-se na especificidade da educação física escolar, em especial, nas questões que tratam sobre o processo educativo, mais precisamente, sobre o objeto de conhecimento da área. Enfatiza, primeiramente, as dubiedades dessa área do conhecimento no âmbito escolar. Parte-se do pressuposto de que a educação física escolar atua, predominantemente, como um instrumento ou uma ciência aplicada disponível para as ciências naturais ou humanas. Perante tal quadro, expôs-se como se manifesta essa condição, isto é, como se dá a condição de um “colonialismo epistemológico” (cf. SÁNCHEZ GAMBOA, 2007) em que a educação física é ora subordinada às ciências naturais, ora subordinada às ciências humanas. Já no segundo momento do capítulo afirmar-se a hipótese que se propõe culminar na superação de tal dicotomia, na qual se encontra alojada a educação física escolar. Para tal superação, apresenta como possibilidade para os elementos que compõem o processo educativo (principalmente, o objeto de conhecimento) da educação física, refletir com base numa ciência da e para a educação, ou seja, a educação física escolar fundamentada por uma ciência prática, uma teoria da educação, em suma, uma pedagogia. Afinal, a educação física não é outra coisa senão um tipo específico de educação. Contudo, tendo em vista o propósito de transformação social, não se trata de uma pedagogia qualquer, mas sim da pedagogia histórico-crítica, pela sua concepção de mundo e de educação. No segundo capítulo, foram expostos os principais fundamentos teórico-metodológicos da pedagogia histórico-crítica. Para isso, apresentou-se, primeiramente, o contexto histórico-social da sua elaboração, elencando, então, os principais acontecimentos que parearam essa teorização desde a sua gênese até o seu movimento atual na educação brasileira; na sequência, apreendeu ao máximo as bases da sua fundamentação teórica, evidenciando a importância e a relação necessária entre a história (como ciência unitária) e a filosofia (como instrumento que possibilita problematizar a existência humana no decurso da história); por fim, foi averiguado e apresentado uma sistematização da concepção de mundo e de educação da pedagogia histórico-crítica que, em última instância, tem como perspectiva a transformação social. No terceiro e último capítulo destaca a principal tese referente à identificação e compreensão do objeto de conhecimento da educação física escolar. Inicia realizando uma análise sobre como se consolida a estrutura do ser humano e, portanto, como se pode pensar o processo educativo de forma sistematizada e que, por consequência, permita que o aluno possa, sob interferência desse processo, atuar por meio de atividades também sistematizadas. Nesse momento, evidencia os motivos que tornam insuficiente legitimar o objeto de conhecimento da educação física escolar subordinando-o a uma determinada ciência. Após tal reflexão identifica-se, em linhas gerais, como o atual momento do modo de produção capitalista impacta no indivíduo, mais precisamente, no desenvolvimento da sua corporalidade. Esta análise se deu por meio da investigação sobre as principais características do modo de produção capitalista (análise esta que se iniciou no segundo capítulo, mais precisamente, no momento de discussão sobre a concepção de mundo conservadora), cujo enfoque, neste terceiro capítulo, foi evidenciar a divisão do trabalho, principalmente em tempos atuais, isto é, no capitalismo contemporâneo. E, assim, no último momento do capítulo, está exposta a compreensão sobre o objeto de conhecimento da educação física escolar, sendo abordado, no processo educativo escolar, pela vigilância crítica da corporalidade humana no momento social hodierno. Dessa forma, localiza-se a identidade do objeto de conhecimento da educação física escolar na relação contraditória entre o desenvolvimento pleno do movimento e a contenção do movimento.

SILVA, Matheus Bernardo. O objeto de conhecimento da educação física escolar na perspectiva da pedagogia histórico-crítica. Capítulo I: Dubiedades e possibilidades sobre a legitimidade do objeto de conhecimento da educação física escolar. 1.1 A legitimidade do objeto de conhecimento da educação física escolar por meio dos circuitos das ciências naturais e das ciências humanas. 1.1.1 O objeto de conhecimento da educação física escolar a partir do circuito das ciências naturais. 1.1.2 O objeto de conhecimento da educação física escolar a partir do circuito das ciências humanas. 1.2 A necessidade de superação do trato dado ao objeto de conhecimento da educação física fundamentado pelos circuitos das ciências naturais e das ciências humanas. 1.2.1 A pedagogia enquanto ciência da educação autônoma e unificada. 1.2.2 O objeto de conhecimento da educação física escolar na esteira da ciência da educação. [s.n.]. Campinas, SP, 2018.

A educação física, na atualidade, encontra-se num momento de indefinição epistemológica. Na qual possui direções enraizadas tanto nas ciências naturais quanto nas ciências humanas. Sánchez Gamboa diz que a educação física sofre um colonialismo epistemológico das ciências mães, ou seja, ela tem como validade a possiblidade de aplicar métodos e teorias de tais ciências mães.

Foi na sociedade moderna que a educação física passou a assumir um relevante papel social. A educação física se torna um meio para aferir e aplicar hipóteses e confirmar teses elencadas pelas ciências naturais, principalmente, pela biologia.

Físico é, atualmente, segundo Silva, utilizado como sinônimo de corpo ou materialidade humana que se popularizou. Em meados do século XIX, na Europa Ocidental, ocorreu o renascimento da educação física, pois foi o período em que se estabelece uma teorização para aferir e intervir no corpo dos indivíduos como força de trabalho. A educação física tornou-se um importante elemento social direcionado para tratar do corpo ahistórico e acrítico do trabalhador.

Com o crescimento desenfreado e desorganizado de habitações nas cidades, no início da sociedade capitalista, a educação física teve dupla função: a primeira consistia em incidir no processo de interiorização, pela classe subalterna, de determinados hábitos saudáveis. A segunda consistia em contribuir no processo de aculturação para as especificidades do modo de trabalho como, por exemplo, a jornada de trabalho e o baixo salário.

Para suprimir o movimento do operariado contra a ordem social imposta, a saída para sociedade capitalista foi encontrar bases científicas e destacar as condições hereditárias e genéticas para justificar as leis contraditórias do capitalismo. A contribuição da educação física foi preconizar a ótica mecanicista e biológica do desenvolvimento da sociedade dos homens. Era necessária a formação de um indivíduo disciplinado e submisso aos preceitos econômico-sociais do capitalismo nascente.

No Brasil, seguindo a dicção de Soares, a educação física estará vinculada aos ideais eugênicos de regeneração e embranquecimento da raça. Por conseguinte, o médico higienista e posteriormente, os militares se tornaram os principais pensadores sobre a especificidade da educação física.

O corpo passa a ser uma mercadoria útil ao capital e tem que ser zelado para poder vender sua força de trabalho.

A educação física, na sociedade moderna, esteve sempre articulada com a saúde biológica do indivíduo. E como componente curricular da escola, a educação física, para a classe subalterna deveria contribuir para a conduta benéfica e sustentadora de condicionamentos sociais capitalistas. Já para classe dirigente, o processo formativo se dava em proveito da valoração da superioridade da raça branca, da masculinidade, do urbanismo, da hierarquização, etc.

Além disso, no âmbito militarista, buscava um padrão de comportamento da sociedade como o de obediência, de hierarquização e de abstenção de uma vida social crítico-reflexiva, uma condição de servidora e defensora da pátria.

No final do século passado a educação física passou a ser um instrumento a fim de cuidar do corpo, também, nos momentos de não trabalho, direcionado para a recuperação ao corpo em proveito da força de trabalho do indivíduo.

A partir da década de 1940, um movimento atribuía a educação física o papel de propagar as atividades físico-esportivas com contribuição para o preparo físico dos trabalhadores e estabelecer uma cooperação, uma amizade entre os trabalhadores.

O movimento “Esporte Para Todos”, surge na década de 1970, era a classe dirigente com suposta intenção de disponibilizar elementos à classe subalterna para uma melhora de qualidade de vida, para “colocar” na cabeça dos trabalhadores que o Brasil passava por um avanço econômico e eles participavam desse momento.

As ciências humanas ganham espaço nas discussões sobre a educação física no final da década de 1970 e início de 1980, a partir da tentativa da autocrítica. Esta sistemática, principalmente, aos paradigmas da aptidão física e do esporte.

Foi o início da tentativa de deslocar a fundamentação da educação física das ciências naturais para ciências humanas. Essas se deram para pensar a educação física por profissionais que passaram a frequentar o debate pedagógico brasileiro. A reflexão ocorre em prol da compreensão das práticas corporais no tocante a cultura, na qual está inserida numa dimensão histórico-social e , portanto, deve ser compreendida como tal.

A corporalidade humana se dá na questão de como compreender o corpo em suas dimensões e ações no âmbito de modo de produção capitalista, mais precisamente, sobre as atuais características da divisão do trabalho.

A pedagogia para se caracterizar como uma ciência da e para a educação e que possa interferir no processo de desenvolvimento dos indivíduos, a mesma deve partir do princípio da unidade teórico-prática, ou seja, da práxis educativa transformadora. Teórico-prático seria a ciência da educação e suas figuras teóricas em consonância com todos seus relacionamentos práticos. Então dependeriam um da outra.

As ciências são fundamentais para o processo educativo, por proporcionar um conhecimento mais aprofundado sobre a realidade. Pelos conteúdos próprios das ciências, que são o meio/instrumento para a promoção do homem (desenvolvimento do aluno). E por contribuir, através do professor, para a formação de cientistas.

Porém, a educação física, ainda continua no âmbito das flutuações, pois está subordinada, principalmente, ao biologismo e ao culturalismo. Logo, a educação física não obteve êxito na tentativa de concretizar a sua autonomia científica, no entanto, a educação física é considerada uma modalidade de educação.

SILVA, Matheus Bernardo. O objeto de conhecimento da educação física escolar na perspectiva da pedagogia histórico-crítica. Capítulo II: Princípios e fundamentos da pedagogia histórico-crítica. 2.1 Contextualização histórica da pedagogia histórico-crítica: da gênese ao desenvolvimento atual. 2.2 Fundamentos teórico-metodológicos da pedagogia histórico-crítica: a relação necessária entre história e filosofia. 2.3 Concepção de mundo da pedagogia histórico-crítica: por uma leitura crítica da realidade concreta. 2.4 Concepção de educação da pedagogia histórico-crítica. [s.n.]. Campinas, SP, 2018.

Dermeval Saviani formulou a pedagogia histórico-crítica com a constatação e justificativa de elaborar uma teoria na sua própria prática educativa. Para ele, o professor deve atuar como um pesquisador e criador contribuindo para o desenvolvimento da sociedade. Lembrando que o contexto social brasileiro na década de 1970 foi um importante cenário para o campo educacional. A escola foi direcionada a assumir os condicionantes das especificidades da sociedade capitalista.

Logo, no final da década de 1980, a situação educacional imposta pela ditadura militar tornou-se algo da crítica dos educadores, que recentemente se organizaram em associações de diferentes tipos.

Foram criadas entidades como principal como principal escopo congregar educadores. E as ideias pedagógicas sofreram ampliação por meio da produção acadêmico-científica. Mais precisamente em 1979 a pedagogia histórico-crítica se acentuou. Ela busca seguir as análises e interpretações realizadas por Marx sobre as questões históricas de produção da existência humana nas características específicas de modo de produção capitalista.

A formulação da pedagogia histórico-crítica até o seu desenvolvimento atual, tem como teoria a contribuição para a formação de indivíduos, seja na formação básica, graduação, pós-graduação e nas formações continuadas das redes de ensino. E também, torna-se fundamental em espaços de formação como sindicatos, associações, partidos e movimentos sociais.

A história é considerada como uma ciência unitária e a filosofia é uma ferramenta que problematiza a existência humana de uma maneira não espontânea.

Para Saviani a ciência da história deve ser o eixo articulador do currículo formativo das escolas. Pois, é na história que o homem se constitui como tal, portanto como um ser histórico. Ao olhar para a história é possível compreender quem somos no presente e o que podemos vir a ser no futuro.

A filosofia é a forma mais elaborada, o grau mais elevado da maneira de compreender a produção da existência humana pelo próprio homem. Por essa razão, a pedagogia histórico-crítica toma a filosofia como necessária para a educação escolar. Muita das vezes a filosofia é tratada como uma área do conhecimento desnecessária para lidar com a vida social, tal questão é evidente quando o indivíduo não faz nenhum esforço para compreender o que realmente trata a filosofia e qual a sua importância na prática social.

A concepção de mundo indica a compreensão sobre a vida, a sociedade, a natureza, etc. um dos fatores que contribuem com a formação da concepção de mundo dos seres humanos é a educação escolar.

Na sociedade capitalista as mutações das técnicas de produção são constantes, sendo que, até mesmo o conhecimento se torna uma força produtiva. A ciência, nesse tocante, deixa de ser apenas uma potência imaterial e passa ser uma potência material via processo de industrialização.

A forma alienante da sociedade capitalista, onde o trabalhador produz toda riqueza da humanidade, porém essa riqueza não pertence a ele. Ao trabalhador, cabe apenas o conhecimento necessário para a sua função e ter acesso apenas aos bens necessários para sua sobrevivência.

A pedagogia histórico-crítica tem como objetivo apresentar fundamentos filosóficos, psicológicos, didático-pedagógico para compreender as contradições da atual ordem social e contribuir para a consolidação de um novo modo de produção, cujo intuito principal é extinguir a propriedade privada dos meios de produção, do conhecimento e a divisão de trabalho.

O homem precisa aprender a produzir a sua própria existência como condição para sua sobrevivência. No período da Antiguidade a divisão de classes se dava também a divisão da educação. Para a classe proprietária, e educação era direcionada à formação intelectual para a classe não proprietária, a educação era simultânea ao processo de trabalho. Logo a educação passa a sofrer forte influência da igreja católica.

E na terceira grande transformação histórica, do processo feudal para o capitalismo, a educação volta sob determinação do estado, mas agora pelo espectro da educação pública, universal, gratuita, leiga e obrigatória.

A educação, para a pedagogia histórico-crítica, está situada no âmbito do trabalho não material. Pedagogia, esta que propõe um sistema de ensino numa perspectiva socialista, cujo enfoque é de aprofundamento dos conhecimentos até o seu grau mais completo.

É função de a escola disponibilizar as condições para que os indivíduos possam a se apropriar do saber elaborado, deve disponibilizar condições para o processo de transmissão-assimilação. O professor é essencial na prática pedagógica, ele deve contribuir na sua especificidade de sua área de conhecimento, para o fortalecimento da democratização da sociedade.

SILVA, Matheus Bernardo. O objeto de conhecimento da educação física escolar na perspectiva da pedagogia histórico-crítica. Capítulo III: O desenvolvimento pleno do movimento e a contenção do movimento como eixos norteadores para a definição do objeto de conhecimento da educação física escolar. 3.1 A estrutura do ser humano como pressuposto para a identificação do objeto de conhecimento da educação física escolar. 3.2 O impacto da atual condição social no desenvolvimento da corporalidade humana. 3.3 Reflexão sobre a educação física escolar para o desenvolvimento da corporalidade do ser humano a partir da ótica histórico-crítica [s.n.]. Campinas, SP, 2018.

A pedagogia histórico-crítica apresenta que o ser humano deve intervir, de maneira intencional e criativa, na transformação social. Saviani constata em primeiro dado sobre a estrutura do ser humano: a priori físico. O ser humano não é apenas um corpo físico, ou seja, ele não tem total dependência do contexto físico. Mas não podemos desconsiderar a realidade física do aluno. A realidade física é parte constituinte do objeto de conhecimento da educação escolar e deve ser considerada na prática pedagógica. Além disso, o ser humano não é um corpo idêntico a qualquer outro corpo, eis então a necessidade de considerar a biologia como ciência capaz de contribuir para a prática pedagógica em educação física. Por meio da biologia, aprofunda-se temáticas como a biomecânica, a anatomia, a fisiologia do ser humano. Tais temáticas compreendem a funcionalidade do ser humano. Seguindo essas orientações, a educação física, deve levar-se em consideração a realidade física e, também, a biológica. Ambas complementam a estrutura do ser humano.

Dando sequência a essa análise, percebe-se que existem questões internas do ser humano, trata-se da priori psicológica. Pois o processo de aprendizagem depende do psicológico do indivíduo. A estrutura do ser humano não se trata apenas aos seus aspectos naturais, uma vez que um corpo que está situado em um determinado contexto histórico-social, torna-se produto e produtores desse mesmo contexto. Trata-se do à priori cultural. Constata-se que o ser humano apresenta condições concretas para intervir na situação na qual está inserido. Nota-se que é um ser vivo autônomo e livre.

Porém, com que direito o educador interfere na vida do educando? Já que esse é autônomo e livre. Saviani leva em consideração o aspecto intelectual (consciência), aspecto empírico (físico, biológico, psicológico e cultural) e o aspecto cultural (liberdade e responsabilidade). Trata-se de compreender o aluno como um ser situado em determinada realidade; o aluno como ser capaz de estabelecer um ponto de vista sobre as questões situacionais; a comunicação entre aluno e professor.

A estrutura do ser humano sofre interferência diretamente de modo como é produzida a sua própria existência. Logo, o modo de produção capitalista interfere no desenvolvimento do ser humano. A classe burguesa estabelece maneiras de concretizar as demandas que atendem somente os interesses da mesma, sendo assim deve haver adaptação psicofísica dos indivíduos da classe subalterna.

O avanço da ciência e, por conseguinte, o próprio avanço tecnológico foi e são elementos determinantes e determinados para engendrar o modo de produção capitalista em cada momento histórico da sociedade moderna.

O desenvolvimento das capacidades psicofísicas, principalmente, dos indivíduos que compõem a classe subalterna, é direcionado para atender as condições de processo produtivo da acumulação flexível do capital. O capitalismo contemporâneo parte-se de uma organização das empresas que busca legitimar um novo nexo sobre a corporalidade dos trabalhadores no âmbito do seu trabalho.

A escola por ser uma instituição social mais avançada para educar os indivíduos de uma forma sistematizada com objetivos e fins estabelecidos em proveito de uma determinada teologia, é utilizada para contribuir no desenvolvimento das capacidades psicofísicas dos indivíduos para que possam assumir determinada função no processo de trabalho, tanto no trabalho intelectual, quanto no trabalho manual.

No que diz respeito a educação física ou educação do corpo, a partir da concepção de educação conservadora, trata-se de uma “nova” pedagogia do corpo no trabalho visando conformar a corporalidade do trabalhador. Seus componentes, profundamentes ideológicos, prometem a saída por meio de artifícios morais, pedagógicos e psicológicos, ao mesmo tempo em que exarem os trabalhadores por meio da intensificação do trabalho, da insegurança no emprego e do sofrimento, preconizando objetiva e subjetivamente.

Pensar no conhecimento da educação física escolar até o momento mostrou-se a importância e a dificuldade que se estabeleceu na necessária análise epistemológica a ser realizada continuamente. Isto porque, não há um consenso epistemológico da área, deixando-a sob distintas ciências.

Refletindo inversamente na área predominante de conhecimento da educação física escolar, consideramos que a identificação e o trato a ser dado ao conhecimento da educação física devem partir de uma ciência da educação. Trata-se de uma modalidade de educação, por conseguinte, um componente do currículo formativo da escola. Com base na pedagogia histórico-crítica o objeto de conhecimento da educação física está alicerçado a partir, principalmente, de uma característica do modo de produção capitalista: a divisão do trabalho em manual e intelectual. A primeira direcionada a classe subalterna e a segunda a classe dirigente.

Assim, o movimento do corpo torna-se, talvez, o único momento em que há um consenso das diversas vertentes que buscam identificar aquilo que é específico da área. Passa a ser compreendido, tanto pelas ciências naturais, como nas ciências humanas, como objetivo de conhecimento da educação física escolar. O enfoque da cultura corporal, o movimento do corpo humano. E a distinção está, então, sobre o olhar filosófico e epistemológico dado ao movimento do corpo do ser humano.

Uma finalidade da pedagogia da educação física escolar é o trabalho intelectual e manual passam a ser tratados de forma unificada. É necessário, a partir da situação atual, compreendê-la, estabelecer um valor em prol da superação social e efetivar atividades concretas para a sua transformação. O que está em jogo, pelo lado das ciências naturais é a adequação do corpo do trabalhador, por meio de atividades físicas, para uma nova condição psicofísica em prol do processo de produção e de trabalho. E, por outro lado, das ciências humanas é também a adequação do trabalhador, por meio das suas ações espontâneas e alienadas, para uma nova condição psicofísica em prol do processo de produção e de trabalho. Compreende-se que o objeto de conhecimento da educação física está contido na coporalidade humana que vem sendo desenvolvida histórica e socialmente.

Entretanto, a coporalidade humana, como objeto de conhecimento da educação física escolar, deve ser compreendida de maneira mais ampla, isto é, a condição psicofísica de ser humano atuar nas mais complexas atividades.

E por consequência, de maneira mais restrita formar um novo homem, isto é, um homem que compreende os movimentos corporais produzidos historicamente e desenvolvido socialmente no decorrer da história dos homens. Pois o desenvolvimento total da coporalidade humana se dá pela unificação entre a atividade teórica e prática.

O pensamento teórico (atividade intelectual) proporciona a compreensão mais aprofundada para a execução motora dos inúmeros elementos que compõe a coporalidade humana. E é importante, também, para o desenvolvimento da capacidade do aluno “conter” os movimentos corporais para executar determinadas atividades intelectuais.

SILVA, Matheus Bernardo. O objeto de conhecimento da educação física escolar na perspectiva da pedagogia histórico-crítica. Considerações finais. [s.n.]. Campinas, SP, 2018.

A tese identificou que há um constante movimento que direciona a área de conhecimento educação física, partindo do objeto de conhecimento das distintas ciências, principalmente, das ciências naturais. O objeto de conhecimento da educação física escolar passa a ser legitimado a partir de estatutos epistemológicos oriundos de ciências que se tornam balizas para a educação física como um componente curricular da escola. Nesse sentido, a educação física, fica à “mercê” das necessidades, das demandas, das hipóteses de outras ciências, onde ocorre a flutuação da área.

Assim, a educação física passa a ser um meio utilizado para educar e ter uma promoção humana.


Sobre o profissional de educação física deve se apropriar dos conhecimentos atinentes à área e as teorias pedagógicas para compreender e efetivar o ofício da profissão.


A questão primordial para a escolha da teoria pedagógica histórico-crítica está a partir de uma concepção de mundo transformadora, que compreende a natureza e a especificidade da educação que nos permite compreender aquilo que é específico nas disciplinas escolares e como abordá-las ao ponto de contribuir com o desenvolvimento integral do aluno. A pedagogia histórico-crítica, como teoria da educação, deve legitimar a educação física escolar. Pois, por meio de seus fundamentos, configura-se como fio condutor de uma ciência da educação autônoma e unificada.

É efetivado, também, um aprofundamento sobre a constituição do ser humano e como a atividade educacional sistematizada pode intervir no desenvolvimento desse ser humano, especialmente, daquele que compõe a classe subalterna, que é preconizado de forma precária nas esferas sociais, inclusive na escola.

Para tanto, é proposto que o desenvolvimento da coporalidade humana é compreender o movimento do movimento, que ocorre de duas maneiras: das atividades corporais que exigem momentos de alto grau de concentração para realizar determinados movimentos, os mais complexos possíveis e; na necessidade de contenção de movimento da compreender historicamente o próprio movimento.

Nesse sentido, compreendeu-se a relevância do presente estudo para contribuir na discussão inacabada sobre o objeto de conhecimento da educação física escolar e na abordagem a ser dada na prática pedagógica. Todavia esta tese de doutoramento não tem como objetivo e nem mesmo se torna autossuficiente para compreender a complexidade histórica que é a identificação do objeto de conhecimento da educação física escolar, bem como a maneira mais coesa e coerente a ser trabalhada pedagogicamente. Portanto, a partir deste estudo, impõe-se a necessidade de um maior aprofundamento sobre as categorias desenvolvimento pleno do movimento e contenção do movimento, tanto no plano teórico (como, por exemplo, na necessidade de um maior aprofundamento sobre o conceito de movimento), quanto no plano prático (nas aulas de educação física). Nota-se que há ainda a necessidade de efetivar constantes aproximações sobre o objeto de pesquisa trabalhado neste estudo. Todavia, tais aproximações só farão sentido caso estejam alicerçadas numa concepção de mundo transformadora e, por consequência, considerando-se a educação física como uma modalidade de educação e, neste caso, de educação escolar, alicerçada numa teoria pedagógica como ciência da educação autônoma e unificada.

























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