ANÁLISE
REFLEXIVA DE NOSSAS EXPERIENCIAS ENQUANTO PROFESSORES EM FORMAÇÃO
por Diego
Ramires silva santos
A educação
do campo sempre foi um assunto muito sensível e pouco explorado na graduação,
como visto em nossa Universidade. Universidade essa que se intitula
universidade agrária, mas carece nesse aspecto de educação e formação básica.
Durante nossas aulas foi muito abordada essa
condição, pois tendo em vista as licenciaturas mecanicistas que não busca uma
conscientização da diversidade que se encontra a sociedade. Em minhas viagens
notei o caráter formador de opinião e detentor da verdade do professor. Notei a
necessidade de uma nova ótica, pois como mostrado em sala, a realidade do campo
e de sua gente é única. Nos textos trabalhados vimos que muitas vezes a
educação física mantem um molde urbanista e sem tomar em conta o espaço físico,
o meio ambiente e outras variáveis. Foram também lidos artigos e materiais que
nos mostraram a condição de moradores e a infância no contexto rural. Condição
essa que permeia sobre a dificuldade muitas vezes, permeia sobre a terra e a
produção, permeia sobre a esperança.
O filme Vidas Secas(1963) nos traz um pouco da
condição que o Brasil se encontra, e sobre a negação das autoridades. Temas como
humildade, submissão perante os detentores do dinheiro, um anonimato social
imposto para a infância e outros , são vistos e discutidos. O ambiente e o
clima redefinem muito a frequência e outros problemas frequentes, como
encontrei algumas vezes em Campo do Meio. Apesar de ser um grupo multi-etário,
e bem organizado, se mostraram bem abertos as atividades sugeridas por mim.
Minhas propostas a inicio seria algo mais informal, mais presente na rotina das
crianças, e busquei isso em alguns conhecimentos ,memórias e material escrito.
Presenciei muito da cooperação e alegria mútua, talvez pelo ideal do Movimento
dos Trabalhadores Sem Terra que prega a ajuda e o companheirismo que muitas
vezes acaba por não existir em muitas metrópoles e cidades atualmente. Não digo
no sentido de que não se exista uma amizade entre as crianças, mas sim que
percebi os mais velhos auxiliando os menores, os menores sugerindo adaptações e
todos participando sem uma necessidade de vitória constante. Principio esse
mostrado também na minha escolha de tema de trabalho sobre abordagens da
educação física, os jogos cooperativos.
Ao ter contato com esse material percebi
muitas novas óticas e dinâmicas que aparentemente serão úteis. Mas além de ir
dentro dessa perspectiva, também tomei base em suas criticas e assim consegui
montar em essência uma linha de raciocínio que ao meu ver será muito
proveitosa. Também tomei conhecimento de algumas novas abordagens da minha
área, e isso se mostrou de muita valia, muita mesmo. Novas perspectivas e abordagens sempre são bem vindas, e percebi que possuía
uma lógica que deveria ser revista .
Trazendo para as atividades em campo, notei
também a necessidade do professor de um modo geral manter um elo de confiança e
respeito com seus alunos. Não pode se ter uma relação superficial e quase nula,
pois o processo educativo representa um ciclo não de transferência de
conhecimento e sim de construção. Todo professor deve construir com seus alunos
suas linha de pensamento e conclusões.
Além do
mais, os filmes em sala de aula nos proporcionaram experiências únicas, pois
com as imagens somos apresentados a não só o lirismo latente que remete ao
campo, como Baixio das bestas (2006).
Em uma
experiência na qual não participei mas tomei nota graças ao professor, foi-me
levado ao conhecimento um caso de violência contra uma menor. Não apenas
violência , mas um transgressão que caminha muito além da noção de ética e
moral. Acontecimentos como esse redefiniu muito o meu ver sobre a infância , a
família e a vida. Infância essa em constante transformação, mas que não deve
perder sua identidade de sujeito em formação.
Nas viagens também tive contato com os familiares , a família daqueles
na qual eu interagia, e isso me foi muito proveitoso tendo em vista entender
posturas e visões de mundo diferentes da minha. Relacionando isso ao material
trabalhado em sala entendi a necessidade de uma escola que realmente faça
sentido e que não apenas reproduza saberes já estabelecidos.
Tive contato
com experiências e relatos de pessoas que como eu buscaram se aventurar numa
tentativa de formular um projeto daquilo que ao meu ver seria interessante.
Defrontando a realidade e o escrito, consegui também perceber que a docência no
campo exige além de reflexão um entender sobre a didática como um todo.
Assim tive contato também com o trabalho
“extensão e comunicação” de Paulo Freire, que me foi muito útil , assim como as
obras culturais trazidas pelo professor. Músicas, filmes, e poesias davam uma
referencia daquilo que estudávamos e o que presenciei em minhas visitas, como a
forma distorcida que as crianças do meio rural são vistas pelos moradores das
cidades, apesar de que os municípios serem relativamente pequenos.
Com a
produção cultural daquele contexto percebemos a dureza de uma vida pautada no
corpo, sim com seus corpos como maquina de transformação do ambiente e capaz de
produzir algo para se manter. Em um plano maior notamos a noção corpo e terra, já que ela é a grande responsável
pelo ganho de vida das pessoas ali. O corpo tanto na infância quanto já adulto
tem caráter determinante no seu papel social.
Nesse
cenário percebi que ainda não estava preparado para lidar com as pessoas com
deficiência física. Com limitações físicas e motoras, me senti na necessidade
de aprofundar meus estudos para utilizar-me da educação física como um meio de
socialização e prática de uma atividade que mesmo adaptada tenha um
significado.
Ao fim da disciplina aproveitamos e conversamos
com a diretora e alguns funcionários da escola que conheci junta ao grupo. Isso
foi muito importante, pois tive contato com a filosofia e visão de mundo
daqueles ali que convivem com as dificuldades e as vantagens de uma educação em
um ambiente diferente daquele visto pela maioria na graduação.
Tive a
oportunidade de conhecer alunos moradores da própria cidade que seguiam até a
zona rural para estudar, talvez por medo da violência urbana, talvez por
fatores pessoais, mas que se sentiam felizes naquele ambiente. Volto a retratar
que não insinuo que na cidade não há felicidade, muito pelo contrario, mas ouso
desafiar a lógica de que aquilo que é comum e não criticado. Como um todo a
disciplina foi muito produtiva e consegui obter muitos frutos desse trabalho, e
graças a esses ganhos acredito que hoje ser um sujeito melhor do que aquele que
iniciou a disciplina.
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