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sexta-feira, 19 de abril de 2013


ANÁLISE REFLEXIVA DE NOSSAS EXPERIENCIAS ENQUANTO                PROFESSORES EM FORMAÇÃO

por Diego Ramires silva santos



A educação do campo sempre foi um assunto muito sensível e pouco explorado na graduação, como visto em nossa Universidade. Universidade essa que se intitula universidade agrária, mas carece nesse aspecto de educação e formação básica.
 Durante nossas aulas foi muito abordada essa condição, pois tendo em vista as licenciaturas mecanicistas que não busca uma conscientização da diversidade que se encontra a sociedade. Em minhas viagens notei o caráter formador de opinião e detentor da verdade do professor. Notei a necessidade de uma nova ótica, pois como mostrado em sala, a realidade do campo e de sua gente é única. Nos textos trabalhados vimos que muitas vezes a educação física mantem um molde urbanista e sem tomar em conta o espaço físico, o meio ambiente e outras variáveis. Foram também lidos artigos e materiais que nos mostraram a condição de moradores e a infância no contexto rural. Condição essa que permeia sobre a dificuldade muitas vezes, permeia sobre a terra e a produção, permeia sobre a esperança.
O filme  Vidas Secas(1963) nos traz um pouco da condição que o Brasil se encontra, e sobre a negação das autoridades. Temas como humildade, submissão perante os detentores do dinheiro, um anonimato social imposto para a infância e outros , são vistos e discutidos. O ambiente e o clima redefinem muito a frequência e outros problemas frequentes, como encontrei algumas vezes em Campo do Meio. Apesar de ser um grupo multi-etário, e bem organizado, se mostraram bem abertos as atividades sugeridas por mim. Minhas propostas a inicio seria algo mais informal, mais presente na rotina das crianças, e busquei isso em alguns conhecimentos ,memórias e material escrito. Presenciei muito da cooperação e alegria mútua, talvez pelo ideal do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra que prega a ajuda e o companheirismo que muitas vezes acaba por não existir em muitas metrópoles e cidades atualmente. Não digo no sentido de que não se exista uma amizade entre as crianças, mas sim que percebi os mais velhos auxiliando os menores, os menores sugerindo adaptações e todos participando sem uma necessidade de vitória constante. Principio esse mostrado também na minha escolha de tema de trabalho sobre abordagens da educação física, os jogos cooperativos.
 Ao ter contato com esse material percebi muitas novas óticas e dinâmicas que aparentemente serão úteis. Mas além de ir dentro dessa perspectiva, também tomei base em suas criticas e assim consegui montar em essência uma linha de raciocínio que ao meu ver será muito proveitosa. Também tomei conhecimento de algumas novas abordagens da minha área, e isso se mostrou de muita valia, muita mesmo. Novas perspectivas e abordagens  sempre são bem vindas, e percebi que possuía uma lógica que deveria ser revista .
 Trazendo para as atividades em campo, notei também a necessidade do professor de um modo geral manter um elo de confiança e respeito com seus alunos. Não pode se ter uma relação superficial e quase nula, pois o processo educativo representa um ciclo não de transferência de conhecimento e sim de construção. Todo professor deve construir com seus alunos suas linha de pensamento e conclusões.
Além do mais, os filmes em sala de aula nos proporcionaram experiências únicas, pois com as imagens somos apresentados a não só o lirismo latente que remete ao campo, como  Baixio das bestas (2006).
Em uma experiência na qual não participei mas tomei nota graças ao professor, foi-me levado ao conhecimento um caso de violência contra uma menor. Não apenas violência , mas um transgressão que caminha muito além da noção de ética e moral. Acontecimentos como esse redefiniu muito o meu ver sobre a infância , a família e a vida. Infância essa em constante transformação, mas que não deve perder sua identidade de sujeito em formação.  Nas viagens também tive contato com os familiares , a família daqueles na qual eu interagia, e isso me foi muito proveitoso tendo em vista entender posturas e visões de mundo diferentes da minha. Relacionando isso ao material trabalhado em sala entendi a necessidade de uma escola que realmente faça sentido e que não apenas reproduza saberes já estabelecidos.
Tive contato com experiências e relatos de pessoas que como eu buscaram se aventurar numa tentativa de formular um projeto daquilo que ao meu ver seria interessante. Defrontando a realidade e o escrito, consegui também perceber que a docência no campo exige além de reflexão um entender sobre a didática como um todo.
 Assim tive contato também com o trabalho “extensão e comunicação” de Paulo Freire, que me foi muito útil , assim como as obras culturais trazidas pelo professor. Músicas, filmes, e poesias davam uma referencia daquilo que estudávamos e o que presenciei em minhas visitas, como a forma distorcida que as crianças do meio rural são vistas pelos moradores das cidades, apesar de que os municípios serem relativamente pequenos.
Com a produção cultural daquele contexto percebemos a dureza de uma vida pautada no corpo, sim com seus corpos como maquina de transformação do ambiente e capaz de produzir algo para se manter. Em um plano maior notamos a noção corpo  e terra, já que ela é a grande responsável pelo ganho de vida das pessoas ali. O corpo tanto na infância quanto já adulto tem caráter determinante no seu papel social.
Nesse cenário percebi que ainda não estava preparado para lidar com as pessoas com deficiência física. Com limitações físicas e motoras, me senti na necessidade de aprofundar meus estudos para utilizar-me da educação física como um meio de socialização e prática de uma atividade que mesmo adaptada tenha um significado.
Ao  fim da disciplina aproveitamos e conversamos com a diretora e alguns funcionários da escola que conheci junta ao grupo. Isso foi muito importante, pois tive contato com a filosofia e visão de mundo daqueles ali que convivem com as dificuldades e as vantagens de uma educação em um ambiente diferente daquele visto pela maioria na graduação.
Tive a oportunidade de conhecer alunos moradores da própria cidade que seguiam até a zona rural para estudar, talvez por medo da violência urbana, talvez por fatores pessoais, mas que se sentiam felizes naquele ambiente. Volto a retratar que não insinuo que na cidade não há felicidade, muito pelo contrario, mas ouso desafiar a lógica de que aquilo que é comum e não criticado. Como um todo a disciplina foi muito produtiva e consegui obter muitos frutos desse trabalho, e graças a esses ganhos acredito que hoje ser um sujeito melhor do que aquele que iniciou a disciplina.

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