Ao
pensarmos em Educação Física Rural, antes de qualquer coisa, ajuizamos contextos
e conceitos que estão arraigado em nossas
“mentes urbanas” implantados pela
mídia e falta de informação. Deste modo concebemos uma ideia errônea e
precipitada do que é viver e que tipo de educação é ofertada nas escolas da Zona Rural.
Segundo
Dayrell (s/d), existe em nossa sociedade uma escola homogeneizante, ou seja,
uma determinada conduta educativa, que reduz a uma educação única e o sujeito a
uma dimensão somente cognitiva, visando o conhecimento como um produto comum,
ofertado a todos com as mesmas estratégias em busca dos mesmos resultados, desconsiderando
assim de forma explicita a diversidade. Tomando como base tal argumento, nos
norteamos -mais comumente- por dois caminhos: Assimilar as Escolas Rurais ao
discurso democratizante, isto é, tornar seus processos educativos similares ao
de todas outras escolas ou, remetermos a uma postura em que as escolas urbanas
possuem melhores práticas pedagógicas e, por conseguinte as escolas rurais
deveriam assemelhar-se com elas.
Seguir
essas perspectivas implica em anularmos toda e qualquer compreensão do contexto
sociocultural da escola rural, das diversidades dos sujeitos envolvidos nos
processos de ensino/aprendizagem e de como esses dois elementos (escola e
sujeito) se interligam.
A tentativa de fazer um currículo, mesmo na escola rural,
baseado no sistema capitalista, gera uma inércia na Educação brasileira, pois
não instiga a tomada da ação e do conhecimento para a vida, também não atinge
a ação reflexiva para o desvelamento da realidade. (FREIRE citado por BARUKI et
al, 2012).
É preciso que desfaçamos este antagonismo entre campo e
cidade, como diz Baruki et al (2012),
e que coloquemos no mesmo patamar de importância o espaço urbano e o espaço rural,
afastando o modelo de precariedade e
falta de recurso, utilizando de políticas públicas eficazes.
A adequação de um currículo específico, de práticas
pedagógicas e de professores ao campo fará com que seja possível atender
expectativas, formar os alunos para que alcance objetivos pré estabelecidos,
fazer com que os alunos estabeleçam laços com a realidade. É necessário fazer
que os conteúdos sejam significativos e os sujeitos encontrem valorização e
produtividade social no contexto e especificidades do campo. (CALART citado por
BARUKI et al, 2012).
Buscar uma maior valorização dos elementos do campo
permite não apenas deter o êxodo rural, mas também frisar a importância
sociocultural destes sujeitos. Tornar a escola do campo como meio legitimo para tais valorizações é também correlacionar
isto a Educação Física.
A formação integral do sujeito só pode ser feita se abstiver
do pensamento Cartesiano - separação de corpo e mente especialmente no processo
de ensino aprendizagem - sobretudo se nos limitarmos à formação de crianças e
de crianças da zona rural, que tem o Se-movimentar como componente principal de
interação com o mundo. A Educação Física na escola do campo, deve atuar como um
auxiliador de exploração do mundo em que as crianças vivem; considerando de
forma incisiva a diversidade cultural ali presente, o espaço físico ofertado, o contexto social que cada sujeito
está inserido. Ajudar a construir um
sujeito critico e autônomo capaz de discernir as consequências, sejam elas
positivas ou negativas, da massificação capitalista, consumista e urbana que
influência direta ou indiretamente nos aspectos Zona rural, sejam eles jogos e
brincadeiras ou mesmo aspectos econômicos.
A importância de se conhecer a realidade da escola rural
ainda como discente possibilita a nós, uma analise mais critica e verídica da
realidade, a aproximação legítima com as crianças destas instituições de ensino
permite que questionemos coisa ainda não pensada, como o Papel da Educação
Física na vida destas crianças e jovens? Como o pensamento de uma EF Renovadora
cabe na Zona rural? E muitas outras questões.
Salientar
a importância crucial de aliar teoria a prática a educação, especialmente neste
caso, é desalienar - como dito no inicio deste texto- “mentes urbanas”.
A necessidade de vinculação entre educação e
as necessidades diárias unindo teoria e prática,destacando a utilização
imediata do conhecimento para o benefício social, uma vez que “[...] o produto
imediato da educação não é material, mas é socialmente útil, sob a forma de um
serviço necessário à sociedade”.
(SEVERINO 2001, citado por
BARUKI et al).
É pensar numa sociedade oprimida e subjulgada em seus
direitos e especificidades no longo da história. Cabe agora perguntarmos: O que
fazer com tais informações a respeito da escola rural? Quais concepções da
Educação Física Escolar usar neste espaço?Seremos capazes de usá-las?
Regendo aulas em uma escola rural, pude perceber não tão
somente da carência de material, que nesta instituição se valia de bastante
recurso, ou mesmo dos déficits do espaço físico da escola e da quadra, que não
há marcações, tabelas, rede ou rede de
esgoto mas também dos déficits das
crianças, não de aprendizado estabelecido por uma sociedade capitalista padrão,
e sim uma carência absurda, de carinho, atenção, de proteção, de uma infância
muitas vezes perturbada e/ou roubada. Há nelas, uma alegria simples em aprender
o novo, participar e se incluir.
Foi
possível ver o se movimentar do sujeito, não por um aspecto técnico, mas algo
além disso, sujeitos esperando para formarem-se integralmente. Consegui ver,
que sim, é possível e necessário que a Educação Física participe disso,
confesso que ainda é preciso pensar e repensar, construir e desconstruir
conceitos, elementos e visões para atuar de maneira coesa e benéfica na Escola
do campo, porém o caminho de reflexão para este assunto foi aberto, basta a nós
segui-lo ou não.
Bibliografia
Daolio,
J. Escola como espaço sociocultural.
BARUKI,V;
ALENCAR, J.M; CRUZ,K.R.A. Implantação da brinquedoteca
enquanto espaço de produção em conhecimento em uma escola do campo: desafios e
possibilidades. Motrivivência. 2012
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