Páginas

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Educação Rural: Narrando Experiências e Impressões.

Educação Rural: Narrando Experiências e Impressões.
Raphael Guilarducci.

Historicamente a Educação Rural não tem se destacado entre os planos de investimento do governo e nas discussões e grades curriculares dos cursos de formação docente. Isso nos remete a um grande problema, tendo em vista que uma parcela significativa da população brasileira estuda em escolas situadas em zonas rurais.
Há em nosso país um esquecimento dessas pessoas, em uma sociedade capitalista cada vez mais preocupada com a produção de bens de consumo, rodeada por uma lógica exacerbada de trabalho, simplesmente os olhares não enxergam os sujeitos do campo. Com a disciplina Fundamentos da Educação Física Escolar, tivemos a oportunidade de discutir e experimentar a prática docente em uma escola rural, de forma ligeira, mas que se constituiu como uma experiência extremamente válida para o nosso processo de formação como professores.
Confesso que tive uma resistência quando a proposta de visitarmos uma escola rural foi apresentada na disciplina. Alguns relatos sobre os comportamentos dos estudantes das escolas rurais como crianças carentes, com histórias de vida extremamente complicadas, num primeiro momento não me tocou. Tenho contato com uma escola de periferia há aproximadamente dois anos, e diante desses relatos imaginei que encontraria sujeitos semelhantes aos que tenho convivido na Escola Estadual Dora Mattarazo.
Na periferia alguns jovens manifestam suas angústias e carências por meio de uma rebeldia e resistência as normas impostas pela escola e família. Essa transgressão a meu ver é algo natural, que demonstra que aquele sujeito faz suas próprias análises e interpretações das relações sociais. Ao chegar à escola rural imaginei que encontraria comportamentos parecidos com os jovens de periferia que passam por dificuldades semelhantes as dos alunos da Zona Rural.
Para minha grata surpresa me deparei com alunos extremamente educados e receptivos. Não só o comportamento dos alunos me chamou atenção, a direção e os professores da escola nos receberam de uma forma que jamais tinha sido recebido ao visitar uma instituição escolar. Nesse momento percebi o quanto havia lançado um olhar preconceituoso para a escola rural, e para os sujeitos que compõem aquela instituição, professores, funcionários, alunos. Esse olhar preconceituoso diria que é algo comum a quem nunca teve a oportunidade de conhecer o elemento a ser estudado, analisado. Dessa experiência guardarei a importância de tentarmos nos livrar dos preconceitos, para que possamos de fato atingir um grau de compreensão, mesmo que mínimo, e de acordo com as nossas possibilidades. Tenho consciência de que visitar duas vezes um espaço escolar não me permite uma grande apropriação e entendimento de tal ambiente, mas ao mesmo tempo esses dois contatos mudaram completamente a visão que havia preconcebido.
Durante a aplicação das aulas fiquei angustiado com alguns relatos do professor de Educação Física da escola, ele nos contou algumas histórias de vida de seus alunos. Algumas daquelas crianças sofrem abuso sexual, são forçadas a trabalhar desde os seis, sete anos, outras vivem em condições precárias. Essas condições de vida marcam as expressões dos alunos.
Identifiquei nos alunos olhares e expressões de alegria que se manifestavam durante a aula. Não posso afirmar, mas me arrisco a dizer que talvez a aula de Educação Física seja um dos únicos momentos em que aquelas crianças exploram o lúdico. Por trás da expressão de alegria, se escondia uma tristeza, uma necessidade de atenção, de ser ouvido e valorizado, principalmente por parte das meninas. Questões de gênero marcaram as aulas, onde a tendência era de uma marginalização do sexo feminino.
Senti uma incapacidade de tocar aqueles sujeitos, fazer da aula um espaço de diálogo com a realidade deles. Foi como se tudo que tivesse lido não desse conta das demandas que estavam impostas. Constantemente discutimos a barbárie, como Auschwitz, maior barbárie da história da Humanidade. A barbárie não se restringe a grandes acontecimentos históricos ela está presente no cotidiano dos sujeitos, ela está presente em uma pequena escola de zonal rural. E se Auschwitz foi um marco para a sociedade como algo que jamais poderemos aceitar que se repita, a barbárie que ocorre nas vidas daquelas crianças não tem o menor destaque, ela ocorre no silêncio dos sofrimentos dos sujeitos.
            Diante disso a responsabilidade em ser professor é imensa, pois não podemos fingir que está tudo bem e apenas aplicar as aulas sem dialogar com a realidade dos sujeitos. Ao mesmo tempo há uma sensação de impotência, os problemas evidenciados na Educação Rural e nas vidas daqueles estudantes são extremamente complexos, e não podemos esperar soluções imediatistas. Acredito que um bom caminho seria o de se estimular a reflexão desde as séries iniciais e de acordo com a maturidade dos alunos pautarmos assuntos que são silenciados por gerar mal-estar, como pedofilia, violência sexual, trabalho infantil entre tantos outros. O caminho que apresentei fica apenas no plano das ideias, não sei como ele se desenvolveria na prática, se seria o suficiente para formar os sujeitos. Infelizmente não tenho uma solução para tais problemas, mas ao menos estou ciente da existência desses problemas e espero que em minhas futuras atuações como professor possa contribuir, mesmo que de forma mínima e limitada, na formação e esclarecimento dos alunos.

 

   
    

Visita a escola rural de Itirapuã


Posso destacar vários pontos positivos  na visita e intervenção à escola rural de Itirapuã, antes de mais nada aquele “ambiente” que visitamos é um lugar inusitado, digo isso não do ambiente escolar, mais sim do modo de vida de cada estudante de lá. A  educação oferecida à eles também é um pouco diferente, não por causa de situações precárias pois ao contrario do que pensei a infra estrutura da escola é bastante estável, mas essa educação que se difere das demais se dá justamente pelo contexto cultural dos alunos. Observei que aquele estereótipo de “jeca” que é colocado em crianças de zona rural é inexistente ali, pois as crianças expressão muito bem tanto corporalmente quanto verbalmente, com exceção de algumas crianças que tinham certo grau de autismo. Um fato que me chamou à atenção e me entristeceu bastante é o de alguns estudantes sofrerem  de estranhos ou dos próprios pais assédios sexuais, e me fez ver que monstruosidades onde presenciamos apenas vinculada pela mídia está acontecendo em alguns quilômetros  da “nossa realidade”, e que provavelmente (infelizmente) vamos lidar com situações como está em nossa vida docente.
Esses foram os pontos que observei que mais colaboraram com minha formação, quanto à intervenção não me cabe uma avaliação precisa, pois a intervenção junto a outros momentos que concretizei esses pensamentos que já foi colocado, a única coisa que a intervenção possibilitou aos alunos foi uma vivencia inusitada na aula de Educação Física, e espero que alem do divertimento essa vivencia possibilitou um novo conhecimento aos alunos, apesar de eu ser da opinião que para isso precisa de um processo que leve tempo e aulaS.
Para terminar essa visita me possibilitou também um pensamento, de que muitas escolas são parecidas fisicamente, porem todas são diferentes quando comparadas o “contexto cultural dos sujeitos” e se esse pensamento estiver correto tenho duas considerações à fazer, a primeira é que devemos tomar consciência disso (quando professor) e prepararmos aulas a partir daquele contexto cultural e a outra é o modo de avaliação do governo quanto ao “nível” da escola, pois o governo aplica nas escolas publicas “avaliações” escritas, porem não leva em considerações fatores culturais, pois aplicam “avaliações” idênticas de norte a sul.


Lúcio Flávio Santos Magalhães
                 Ao cursar a disciplina “Fundamentos da Educação física escolar” no curso de Licenciatura em Educação física da UFLA, foi proposto aos alunos que fizessem uma visita a alguma escola rural e posteriormente aplicassem uma aula nessa escola. Diante essa proposta a escola escolhida para a visita foi a “Escola Municipal Édio do Nascimento Birindiba”, localizada na região da Estação Ferroviária de Itirapuan /Lavras.
            No primeiro contato realizado com a escola, onde fomos muito bem recebidos tanto por professores, secretários, diretores e também pelos alunos, percebemos muitas das dificuldades encontradas pelos professores que ali atuam, como por exemplo, a rotatividade dos horários, que fazia com que o professor de Educação física muitas vezes chegasse a escola sem saber em quais turmas ele teria aula, tornando assim quase impossível o planejamento pedagógico, que por si só já é um grande problema devido a falta de material bibliográfico que auxilie a sua construção em um contexto rural e, também devido a má formação de professores para atuarem no campo, pois durante todo o curso, raramente se ouve falar em educação física rural, e se ouve muito menos a respeito da forma como se deve trabalhar em tais locais, onde os alunos vivem  em uma realidade diferente dos alunos da escola urbana.
            Mas mesmo diante do pouco contato que tivemos com a escola e com a falta de apoio bibliográfico, tentamos construir uma aula que fizesse sentido para aquela população, dessa forma, identificamos em uma conversa com o professor, que alguns conteúdos como o vôlei e o basquete não eram trabalhados na escola devido a falta de material. Assim trouxemos para nossa aula um jogo de bola com as mãos, utilizando como materiais barbante e bolas de plástico. Buscamos com isso construir uma aula lúdica, devido ao fato dessas crianças não terem muitas vezes um espaço para a ludicidade em seu cotidiano, assim também como mostrar que professores e alunos não precisam ficar reféns da falta de materiais para construírem as aulas. No geral a aula correu normalmente, mas vale o destaque para a dificuldade de meninos e meninas realizarem juntos a mesma atividade, chegando ao ponto de uma menina se retirar da brincadeira aos prantos devido ao fato de um colega xingá-la por ela ter errado um lance.
            No geral foi uma experiência interessante pelo fato de conhecermos uma realidade diferente da que estamos acostumados e também por termos tentado realizar uma intervenção nessa realidade, sentindo através dessa intervenção toda a dificuldade que é trabalhar com alunos que muitas vezes não tem o mínimo em casa e vêem na escola um local de refugio da dureza de seu cotidiano.         

                

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Educação Física no contexto rural

Ao utilizamos o termo “rural”, nos remetemos ao que é relativo ao campo, ao sistema agrícola. Quando discutimos sobre educação rural, vemos um sistema composto por fragmentos da educação urbana introduzida no meio rural, na maioria das vezes precário na sua estrutura e funcionamento. Vemos uma instituição escolar que passa valores de uma ideologia urbana que subordina a vida e o homem do campo. As políticas e projetos de educação rural que buscam "fixar o homem a terra" não são efetivos, uma prova disso é a grande movimentação de rurícolas que abandonam o sistema agrícola em um movimento de êxodo rural desde o período pós II Guerra Mundial até os dias de hoje.
Uma educação rural adequada à cultura e ao "homem do campo" precisa ser um elo entre outros elementos de uma política efetiva de redistribuição da propriedade fundiária e de garantia de justiça social entre os trabalhadores rurais. Fora destas condições, conteúdos, currículos e tipos de escolas e ensinos "rurais" são propostas, no geral, inadequadas, já que o trabalho e as relações de produção nas comunidades agrícolas formam valores e estruturam uma organização social diferenciada do contexto urbano, que acaba se estendendo à organização escolar, exigindo, portanto, que as ações educativas no meio rural sejam norteadas pelas características que lhe são peculiares.
De certa forma, o ensino rural voltou-se mais para a formação de técnicos do que para o ensino fundamental e o ensino nas áreas rurais é o que apresenta maiores percentagens de reprovação, ausência às aulas, número de professores leigos e distorções na relação idade-série. Estas são algumas deficiências do ensino rural, assim como carência de recursos didáticos, a baixa remuneração dos profissionais, falta de esforço das autoridades e o não cumprimento da lei que permite a adaptação do período letivo ao calendário agrícola.
Diante disso, em relação à área da Educação Física podemos identificar inúmeros dilemas que como dito anteriormente se remetem a todas as áreas. Dilemas estes discutidos em sala de aula e vistos durante visitas na escola rural de Itirapuã. Essas dificuldades são as que levaram o professor a não conseguir preparar um plano pedagógico, não por culpa dele, mas sim de todo o funcionamento da escola em questão. Outra dificuldade é a precariedade dos materiais, como bola, quadra, redes entre outros. Pude observar a carência estampada no rosto de cada criança, sendo ela por vários motivos um tanto quanto absurdos como por exemplo, casos de violência sofridos por alguns alunos.
Outro ponto que me chamou a atenção foi quanto a receptividade dos alunos. Tenho que confessar que em um primeiro momento eu tive um pouco de receio de como os alunos iriam nos ver e comportar durante a aula. Porém, fui presenteado com uma receptividade sem igual, diferentemente de qualquer outra escola do meio urbano. As aulas foram ministradas tranquilamente e todos os alunos adoraram o “algo novo” que levamos para eles. Muitos outros problemas foram vistos fazendo com que aumente ainda mais a responsabilidade do professor com todos os seus alunos, não só como formador de opinião, mas também como exemplo de ser humano.

Contudo, deixo aqui minha satisfação de ter feito esta intervenção. Foi de grande valor não só curricular, mas para a vida. Apoio a continuação deste projeto em nossa área para que todos os docentes vejam o quão é necessário passar por essa experiência para que ocorram  mudanças do sistema educacional no contexto rural de forma mais rápidas e incisivas.  

Educação Física Rural possibilidades de ação

A educação física rural é um tema muito controverso na medida em que as possibilidades de trabalho são grandes, porém as dificuldades encontradas são muitas no processo de ensino-aprendizagem. A vida muitas vezes é tão dura com essas crianças que impõe tantos obstáculos que subtraem delas as possibilidades e o direito de ser criança, que é garantida por lei. A educação física tem papel importante nesse contexto podendo proporcionar ainda que de forma mínima da retomada da infância por parte dos alunos, não só contribuindo com aulas divertidas mas ao meu modo de ver incluindo-os como sujeitos ativos na sociedade com voz e opinião e não largados a própria sorte e também mostrar que mesmo com as limitações físicas do espaço é possível  adaptar as práticas de acordo com suas necessidades e anseios.
Em uma conversa com o professor ele nos revelou a dificuldade de desenvolver um projeto pedagógico devido ao que ele chama de “rotatividade de aulas” que significa não ter um horário definido para as aulas, muitas vezes chega ao ponto de só tomar conhecimento das aulas do dia ao chegar a escola para trabalhar. Esse é mais um ponto que precisa ser pautado em reuniões tanto da escola quanto da coordenação de educação do município. Foi revelado também em um tom mais informal alguns casos assombrosos de violência sofridas por alunos em suas casas, o que gera uma questão, eu acredito que em todo ser humano que ouça tais relatos, o que podemos fazer? Devemos permanecer omissos e de mãos atadas, como proceder diante de tamanhas atrocidades. No que tange essa questão acredito que na realidade da educação rural o professor tem um papel central por ter uma relação mais estreita com os alunos, servindo como exemplo e formador de opinião, não é possível afirmar devido a ausência de uma pesquisa sistematizada mas algumas vezes é possível notar a carência dos alunos de uma referência de disciplina e talvez até paterna.
Outro ponto que deteve a minha atenção foi a receptividade dos alunos com a nossa presença, até então éramos desconhecidos  e principalmente com as nossas praticas totalmente divergentes das que eles estão habituados fugindo do caráter recreativo que predominava, as aulas transcorreram de forma tranquila e o feedback que as crianças nos ofertaram foi extraordinário, claramente notou-se que elas tem uma facilidade de se expressar e formular raciocínios que chegou a surpreender e arrisco a dizer pelas experiências anteriores que tive,que os alunos tem a capacidade de se expressar com mais clareza e coesão que os alunos com maiores possibilidades de acesso ao conhecimento.

Acredito que todos os docentes em formação deveriam fazer ao menos uma intervenção em uma escola rural a experiência acadêmica é muito rica em discussões para se realizar e muitos pontos a se analisar, mas acredito que principalmente como experiência de vida para romper certas visões do que é mundo real e de como as coisas realmente acontecem em meio as dificuldades, se todos tivessem a oportunidade e o desejo de realizar visitas em escolas rurais talvez a sociedade enxergasse de outra forma o processo educacional.

Educação e educação física rural, desafios e possibilidades, um relato de experiência.


A ciência surgiu para explicar os mitos que perturbavam a existência  humana, veio substituir as crenças, a religião, Deus e todo o resto que não seguisse a lógica ou pudesse ser explicado material e matematicamente. Tornou-se referência, sinônimo de sabedoria, de verdade absoluta e de poder. Mas, seria mesmo capaz a ciência de solucionar todos os dilemas humanos ou ela se tornou mais um a ser questionado e entendido? Vivemos hoje num  mundo contemporâneo, regido pelo modo de produção capitalista e o avanço científico e tecnológico proporcionou os meios pelos quais esse sistema se legitima. A produção industrial e em larga escala tem como um de seus pilares o ganho de tempo, mas queremos tempo para quê? Quais as consequências deste processo? Quem está ganhando e quem está perdendo? Estamos de tal modo arraigado neste contexto onde a venda da força de trabalho é o único meio pelo qual nos sustentamos,  que o tempo que supostamente ganhamos é gasto nos preparando para sermos o melhor possível e os melhores no que fazemos, pois se não for assim não estaremos adequados ao sistema e, portanto não serviremos. Somos escravos sem correntes e sem chibata, não resistimos ao que nos é imposto e nem conseguimos olhar para além do nosso próprio existir. E as pessoas que são marginalizadas por este processo cruel e impiedoso?
Tais questionamentos tem feito parte da nossa formação docente, o que significa ser professor? Expresso aqui apenas opiniões e sentimentos, minha pretensão não é de convencer você que se dispôs a ler este relato de uma postura correta ou errada. Ser professor significa hoje pra mim estar disposto a compreender a vida, a pluralidade dos sujeitos e seus contextos, as várias infâncias, adolescências e juventudes. Ser professor deve ser mais do que adestrar, silenciar, endireitar. Ser professor deve ser mais do que ensinar um conteúdo que muitas vezes é organizado por pessoas que não fazem parte do universo escolar. Ser professor significa estar em constante processo de aprendizagem, de estranhamento do natural. Ser professor é mais que uma simples profissão é um sonho, um ideal e um desafio. Várias são as formas de ser professor e de ser aluno, também devem ser várias as formas de educação.
Frente ao progresso e à barbárie produzidos pela civilização fomos convidados a conhecer a realidade da educação rural, do camponês, população esta quase extinta pelo avanço, pelos aglomerados populacionais que denominamos cidades. A forma organização  desta baseia-se no trabalho e na produção em massa ao passo que no campo tudo passa por um processo manual e demorado sendo apontado como perca de tempo. O processo do êxodo rural ocorreu e ocorre na busca melhores condições de vida, como a moeda se tornou o meio de troca, a permuta (troca de um material por outro) também não faz mais sentido no campo e eles precisam se adequar a esta regra urbana, porém a realidade enfrentada por aqueles que vão para a cidade nem sempre é boa e acabam por não encontrar o que buscavam e nem conseguir os meios para retornar à sua terra, tamanha é a dificuldade que enfrentem.
Aos que permanecem no campo, aos poucos estão vendo sua cultura sendo dizimada pela chegada faceira da tecnologia, são taxados como atrasados e seu modo de vida com produção para subsistência não é valorizado, porém, ARROYO(1999) nos lembra muito bem que o campo está vivo e há mais vida na terra do que no asfalto da cidade. As formas de educação no campo não devem reproduzir os modos da cidade, o povo do campo tem tanto direito a educação básica como os da zona urbana, mas que seja uma educação que dê atenção a sua cultura e o seu modo de vida.
Pensar a educação física no campo é um desafio ainda maior, pois historicamente esta disciplina tem um caráter higienista e de domínio sobre o corpo para prepará-lo pra o trabalho. A partir da década de 80 começa se pensar novos pressupostos para nortear esse fazer pedagógico, mais ainda assim baseiam-se num conjunto de práticas corporais voltados para o contexto urbano, então como apresentá-la no meio rural, para corpos marcados pelo trabalho árduo, sol a sol, e crianças que ao invés de tempo livre para viver sua infância assumem a responsabilidade de adultos e cuidam da casa, dos irmãos e do trabalho?
Estivemos por duas vezes na escola municipal rural do Itirapuã, um tempo consideravelmente pequeno, mas que foi suficiente para nos proporcionar uma experiência de vida, pois não foi simplesmente algo que passou, foi algo que nos atravessou, marcou e agora faz parte de nossa subjetividade.
Como exímios moradores da cidade, também tivemos preconceito e resistência em relação ao contato com o campo, a distância e a dificuldade de deslocamento foram os primeiros empecilho colocados. Quebrado o pré conceito pra então termos um conceito, vimos que isso não é nada perto do que vivem as crianças que lá frequentam. A falta de recursos da escola é eminente, mas grandes são os esforços que buscam melhorias estruturais que acolha adequadamente os estudantes, a educação física compõe a grade de todos os alunos, mas os horários não são fixos, se adéquam as necessidades da escola.
Observamos crianças extremamente dóceis e calmas, um estranhamento visto que estamos acostumados à agitação e a desordem nas escolas da cidade, e ainda mais que isso, percebeu-se crianças carentes que neste momento ainda não conseguimos distinguir ao certo os porquês, apenas temos alguns indicativos e hipóteses. Em uma das aulas que ministramos o professor nos relatou ao término que havíamos trabalhado com cinco crianças especiais com autismo e déficit de aprendizagem, em conversas não oficiais no interior da escola nos deparamos com relatos de abusos, de jornadas exaustivas de trabalho infantil para ajudar na complementação da renda familiar e então pensamos o que fazer diante dessa realidade que já é difícil e ainda possui agravantes?
O trabalho que é realizado com essas crianças é de extremo zelo e cuidado, a escola atende cerca de 200 crianças residentes na comunidade rural e em um bairro da periferia de Lavras chamado Pipoca, o professor de educação física nos disse o seguinte: – O pouco que vocês fazem por menor que seja para essas crianças é muito – Entendemos isso como um recado para a necessidade de se olhar com mais atenção para a educação do campo que está sendo esquecida a margem da sociedade.
Finalizo com o adendo de que a escola rural não é melhor que a escola da cidade, mas também não é pior, ela tem uma população específica pra atender, e fazendo uso novamente das palavras de ARROYO (1999 p.34)  ela tem os seus valores singulares que vão em direção contrária aos valores burgueses, complemento, de progresso, de ciência e de tecnologia, talvez por isso esteja tão desvalorizada.


Referência: ARROYO, Miguel Gonzalez. ; FERNANDES, Bernardo Mançano. A Educação Básica e o Movimento Social do Campo: por uma educação básica do campo. DF: Editora Universidade de Brasília, 1999. vol.2