Ao utilizamos o termo “rural”, nos remetemos ao
que é relativo ao campo, ao sistema agrícola. Quando discutimos sobre educação
rural, vemos um sistema composto por fragmentos da educação urbana introduzida
no meio rural, na maioria das vezes precário na sua estrutura e funcionamento.
Vemos uma instituição escolar que passa valores de uma ideologia urbana que
subordina a vida e o homem do campo. As políticas e projetos de educação rural
que buscam "fixar o homem a terra" não são efetivos, uma prova disso
é a grande movimentação de rurícolas que abandonam o sistema agrícola em um
movimento de êxodo rural desde o período pós II Guerra Mundial até os dias de
hoje.
Uma educação rural adequada à cultura e ao
"homem do campo" precisa ser um elo entre outros elementos de uma
política efetiva de redistribuição da propriedade fundiária e de garantia de
justiça social entre os trabalhadores rurais. Fora destas condições, conteúdos,
currículos e tipos de escolas e ensinos "rurais" são propostas, no
geral, inadequadas, já que o trabalho e as relações de produção nas comunidades
agrícolas formam valores e estruturam uma organização social diferenciada do
contexto urbano, que acaba se estendendo à organização escolar, exigindo,
portanto, que as ações educativas no meio rural sejam norteadas pelas
características que lhe são peculiares.
De certa forma, o ensino rural voltou-se mais
para a formação de técnicos do que para o ensino fundamental e o ensino nas
áreas rurais é o que apresenta maiores percentagens de reprovação, ausência às
aulas, número de professores leigos e distorções na relação idade-série. Estas
são algumas deficiências do ensino rural, assim como carência de recursos
didáticos, a baixa remuneração dos profissionais, falta de esforço das
autoridades e o não cumprimento da lei que permite a adaptação do período
letivo ao calendário agrícola.
Diante disso, em relação à área da Educação
Física podemos identificar inúmeros dilemas que como dito anteriormente se
remetem a todas as áreas. Dilemas estes discutidos em sala de aula e vistos
durante visitas na escola rural de Itirapuã. Essas dificuldades são as que levaram o professor a não conseguir preparar um plano pedagógico, não por culpa dele, mas sim
de todo o funcionamento da escola em questão. Outra dificuldade é a
precariedade dos materiais, como bola, quadra, redes entre outros. Pude observar
a carência estampada no rosto de cada criança, sendo ela por vários motivos um
tanto quanto absurdos como por exemplo, casos de violência sofridos por alguns alunos.
Outro ponto que me chamou a atenção foi quanto
a receptividade dos alunos. Tenho que confessar que em um primeiro momento eu
tive um pouco de receio de como os alunos iriam nos ver e comportar durante a
aula. Porém, fui presenteado com uma receptividade sem igual, diferentemente de
qualquer outra escola do meio urbano. As aulas foram ministradas tranquilamente
e todos os alunos adoraram o “algo novo” que levamos para eles. Muitos outros
problemas foram vistos fazendo com que aumente ainda mais a responsabilidade do
professor com todos os seus alunos, não só como formador de opinião, mas também
como exemplo de ser humano.
Contudo, deixo aqui minha satisfação de ter
feito esta intervenção. Foi de grande valor não só curricular, mas para a vida.
Apoio a continuação deste projeto em nossa área para que todos os docentes
vejam o quão é necessário passar por essa experiência para que ocorram mudanças do sistema educacional no contexto
rural de forma mais rápidas e incisivas.
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