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quarta-feira, 28 de março de 2012

Resenha – Educação Física Escolar: formação ou pseudoformação?

Marcus Aurélio Taborda de Oliveira é graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (1985), possui especialização em Filosofia da Educação pela PUC/PR (1987). Além disso, possui doutorado em Educação: História, política, sociedade pela Pontifícia PUC/SP (2001) e também realizou um estágio de pós-doutorado no Departamento de Teoria e História da Educação na Facultad de Educación , Universidad de Murcia, Espanha. Atualmente é membro do Núcleo de Estudo e Pesquisas História, Educação, Modernidade da UFPR, professor do departamento de Educação Física na graduação e na pós-graduação da UFMG e pesquisador do CNPq. Ele possui diversas obras e artigos nas áreas de Educação e Educação Física.

No artigo “Educação Física escolar: formação ou pseudoformação?”, Oliveira discute a hegemonia da prática competitiva no ambiente da educação física escolar. Evidenciando os pontos limitantes dessa prática para a formação do indivíduo, ele, então , argumenta sobre qual é o papel da educação física no processo formativo dos sujeitos.

O autor, inicialmente, conduz à compreensão do que ele irá problematizar de maneira muito clara. Desse modo, ele contextualiza sobre várias causas apontadas por outros autores sobre os motivos da Educação física ainda não ter a relevância que deveria e ser tratada secundariamente dentro do ambiente escolar. Não excluindo as teorias apontadas por estes autores, mas sim ampliando a visão, ele indica que o status que a Educação Física se encontra é devido a falta de definição sobre a formação ( ou não formação) que a EF possibilita aos indivíduos.

Oliveira norteia a sua crítica ao principio da competição com uma argumentação bem embasada e objetiva. Analisando a Educação Física Escolar contemporânea é possível perceber que ele encontrou e focou o princípio que domina a EF. O processo competitivo está tão presente que até mesmo práticas que não necessitariam fundamentar-se nele, passam a ter este caráter, pois os professores deduzem que os alunos gostam de competição e precisam dela. E a opinião dos alunos para construção da prática escolar é simplesmente esquecida.

Durante todo o texto, Oliveira dialoga com obras de Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Max Horkheimer e Tarcísio Mauro Vago. Esses autores fundamentalizam toda a argumentação e propostas que o texto traz.

A competição na prática formativa escolar é vista como elemento estreitamente ligado à dominação do outro, hipótese essa que, para ele, engloba a competição como elemento de regressão aos prazeres primitivos, assim como algo da dimensão humana que remeteria ao darwinismo social que prega que a seleção dos mais aptos é dada pelas condições de progressão social. A competição lançaria um contra o outro e levaria a hierarquização. Exemplificando, o mais forte submeteria o mais fraco a uma espécie de autoridade, o que levaria a classificação de caráter quantitativo. A competição, portanto, tem embutida em si a eliminação, discriminação, seleção e exclusão.

Vistos esses fatos, a competição serviria para a manutenção do status quo, ou seja, a manutenção da ordem e que os indivíduos se conformem facilmente com o que é imposto pelos “dominadores”. A pseudoformação estaria enraizada nela, pois é onde encontra a visão do ser humano de forma não holística, o que geraria uma pobreza cultural para a área da EF , pois nela há a negação da formação do ser humano em toda a plenitude de suas dimensões. O caráter ideológico da competitividade carregaria a mera reprodução, obliteração da consciência, heteronomia, impossibilidade de emancipação, retificação das relações com o outro, banalização cultural acarretada pela imposição do mercado dando caráter apenas utilitarista e elitização da cultura.

O autor analisa a Educação física escolar dentro de um contexto mais amplo extrapolando os muros da escola e expandindo dentro do contexto dessa sociedade que é considerada, por ele, totalitária e desumana.

Ele não deixa o tema em aberto, propõe alguns pontos que poderão fazer a concepção do processo de formação ser modificada. Citando Vago, ele coloca questões que serão condicionantes para essa mudança. Elas são que a EF atinja âmbitos da singularidade e do social do aluno, não esteja servindo ao processo capitalista formando estritamente para o mercado de trabalho, que sua concepção seja omnilateral, estimule a experiência corporal lúdica e incentive a criatividade humana sem impor limitações. Essa nova concepção do processo de formação formará sujeitos emancipados, autônomos, capazes de autorreflexão e com alteridade, dando aos indivíduos a possibilidade do encontro efetivo e não de um contra o outro. Ele lembra que é preciso pensar formas de desenvolver a EF, de fazer refletir sobre si para haver discernimento e não cair na ideologia.

Retomando ao conceito do processo de esclarecimento de Adorno e Horkheimer, Oliveira diz que em um contexto geral, a Educação física e a cultura que carrega podem ter dois sentidos: O primeiro, servir para que o indivíduo resista à dominação, tenha capacidade crítica e reflexiva, denuncie e se supere; O segundo, para a banalização da cultura, manter a ordem atual e continuar a dominação. E finaliza com a ideia de que para que o primeiro sentido do processo de esclarecimento ocorra é necessário indagar sempre sobre o papel da Educação Física e se ela busca formar indivíduos com autonomia e alteridade.

O artigo de Oliveira é voltado, principalmente, para as pessoas envolvidas com educação física escolar. Focado na questão da formação que a Educação física proporciona aos sujeitos, é um estímulo e alerta para a visão e reflexão sobre o que a EF é dentro da escola e o que precisa ser. O leitor encontrará muitas referências aos sociólogos e filósofos Adorno, Marcuse, Horkheimer e ao doutor em história da educação e mestre em educação, Vago. Aos que se refere aos sociólogos e filósofos, faz-se importante um conhecimento prévio sobre as obras referidas, pois tornará a compreensão muito mais fácil.

Aos graduandos de licenciatura em educação física é um texto que ampliará o que se pensa sobre a questão dos princípios que devem nortear a prática escolar, pois traz um conceito bem diferente do que é mais divulgado. O autor guia o leitor numa sequência bem lógica e sempre interliga os assuntos, além de trazer diversos exemplos práticos para ilustrar. É um texto que demanda atenção, mas que poderá somar bastante ao conhecimento do leitor.

Perguntas:

1) Qual possibilidade de realização da educação física escolar livre do principio de competição? É viável?
2) Quais os pontos que a EF escolar deve-se voltar para evitar pseudoformação?
3) Os professores estão preparados para formar o aluno? Você, como estudante, acha que conseguiria atuar de forma a realmente fazer a EF colaboradora da formação do sujeito?

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